sexta-feira, 23 de março de 2012

GLAUBER MORTO

                                                                     Ferreira Gullar
O cineasta do Novo Cinema Brasileiro



O morto
não está de sobrecasaca
não está de casaca
não está de gravata.

O morto está morto

não está barbeado
não está penteado
não tem na lapela
uma flor
                  não calça
sapatos de verniz

não finge de vivo
não vai tomar posse
na Academia.

O morto está morto
em cima da cama
no quarto vazio.

Como já não come
como já não morre
enfermeiras e médicos
não se ocupam mais dele.

Cruzaram-lhe as mãos
ataram-lhe os pés.

Só falta embrulhá-lo
e jogá-lo fora.

Glauber Rocha

quarta-feira, 21 de março de 2012

DA JANELA DO APARTAMENTO

Ringo




Assaltos a mão armada,
Roubos na porta de um bar
Jovens no mundo das drogas,
O crime passa a dominar,
Tudo fica bem visível
Da janela de um edifício
Fico sempre a observar.

Vejo de cima da janela
Todo esse mal estar,
Crianças com 12 anos
Já começam a matar,
Muitos mortos e feridos
Essa escola de bandido,
No Brasil tem que acabar.

Vejo Víciado em droga
Vejo no ar livre esse mal,
As drogas, o culto ao corpo
Cada dia mais banal,
Cada vez mais existente
A violência presente,
No nosso meio social.

Todo esse mal estar
Dessa pós-modernidade
Por detráz dessa cortina
Jovens na desigualdade,
Vivem de forma negativa
Sem rumo e perspectiva,
Vão pra criminalidade.

                               Ringo

segunda-feira, 19 de março de 2012

O PIRATA DA ILHA DE MARITACACA

Luiz Luz, eu, Samuel, o mestre Antonio Francisco,o fomentador cultural  Akirio, Tomaz e o gênio Genildo Costa




No último dia 15, após uma noite dionizíaca e brilhante em mossoró
festejando o dia nacional da poesia, onde houveram dois sarais de peso acontecendo simultaneamente, foi a vez de Areia Branca sob a voz de alguns jovens ousados e cedentos de vida cultural, brindar a festividade literária com o lançamento do jornal cultural "O pirata".
Não pude recusar o convite feito pelos amigos do movimento estudantil Samuel e Luiz Luz, para representar a ONG CeM (Cultura em Movimento)ajudando na organização da parte artística de um recital que havia de compor a programação do evento. Também fui convidado para declamar meus versos ao lado do irreverente Antonio Francisco e o lírico intelectual Genildo Costa. Foi uma realização estar ao lado de pessoas tão belas e marcantes, à recitar!
No dia, tudo parecia querer naufragar, quando a gráfica deu furo com os jovens editores do jovem jornal, quando vimos que o evento estava sob a ameaça de atrazo, e também quando ficou efetivada a auxência de duas promessas à vida literária potiguar, as poetizas Camila Paula e Ellen Dias. Mas no fim foi um sucesso. Apesar dos problemas gráficos da primeira edição, houve uma aceitação gravada no semblante daqueles que ocuparam quase todos os acentos disponíveis. Acolheram de sobremaneira os meus poemas estranhos de gente estranha.
Engana-se quem pensa que durante a viagem falamos de Dostoiévski
a Guimarâes Rosa, nos divertimos bastante com a vitalidade e o discurso cômico do mestre Antonio Francisco sobre jovens e idosos, além de cantar velhas marchinhas carnavalescas.
Agora devemos esperar o pirata da ilha saltear os conformados no cultivo do conhecimento, no pruduto de cultura autoral de uma gente quase utópica.

segunda-feira, 12 de março de 2012

AMAR

Florbela Espanca





Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

A autora

segunda-feira, 5 de março de 2012

A MESMA DOR

                                                                         Modesto Batista


                                Ei, meu amor...
                                a mesma dor que te faz recuar
                                é a mesma dor que te faz avançar

                                Por entre campos minados
                                estamos lado a lado
                                e nada parece nos atingir
                                quando você profere
                                seus contos sem rancor
                                de palavras de calor

                                Tudo se transforma
                                as órbitas e as formas

                                Tudo muda em um segundo
                                em um minuto se muda o mundo

                                E é a mesma dor que inicia
                                que de nostalgia termina


A grande amiga mossoroense Camila Carrilho, eu e um grande amigo, o poeta e militante Modesto Batista