quinta-feira, 29 de maio de 2014

SÍSIFO

Grande Poeta Mossoroense

Acene, para mim, de algum lugar...
levante tua mão eme saúde,
nem que seja à beira do ataúde
em que minh'alma irá repousar.

Acene, para mim, bem devagar...
da beira do abismo e desfrute
da imagem que fui - ser tão rude...
do desejo de nunca me vingar!

Sobre os ombros, o peso dos teus olhos
desequilibra-me na montanha e os abrolhos
cortam-me os pés na subida infame...

Levo esta pedra, minha cara senhora,
como o Sísifo de mim, na vida afora
a conduzi-la sem o teu nome...



                                                                       Mário Gerson









quarta-feira, 28 de maio de 2014

LIVROS E FLORES



Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
em que melhor se leia
a página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
em que melhor se beba
o bálsamo do amor?

                                                                  Machado de Assis




sexta-feira, 23 de maio de 2014

SOLIDIFICADO

Yuri Hícaro



Solidão...
expressão sublime
do acaso,

que o descaso
no coração...
resume.



                                                                         Yuri Hícaro





quinta-feira, 22 de maio de 2014

CANÇÃO DE OUTONO




O pranto longo
dos violinos
do outono
fere-me a alma
com um langor fino
sempre igual

Já sufocando,
pálido, quando
bate a hora

ainda me lembro
de antigos tempos
e então choro;

E vou-me embora
por um mau vento
que me leva
sem rumo, lento,
tal como leve
folha morta.

                                                                     Paul Verlaine





sexta-feira, 16 de maio de 2014

ALEXANDER MOURA


Poeta Pau-ferrense 

O que fazer
quando inexistir caminho?
Alcançar à luz no fim do túnel
e não ter nada,
apenas recordações d'um passado
e uma dor infinda no peito?

Os passos tortos
por entre os caminhos da vida
deixam rastros, marcas
de um bicho ostensivo,
cavando a própria cova
em um precipício.

Semeou fogo, colheu inferno
ardendo em brasa.
O corpo se perde na estrada
e a alma incinerada.
Tanto desacreditou no amor
que agora só restou:
a dor.


                                                                  Alexander Moura




quinta-feira, 15 de maio de 2014

ALGUNS E OUTROS TANTOS



Poeta Mossoroense

Alguns são fortes
outros tantos autodestrutivos.
Alguns se evadem,
outros ficam
e partilham a solidão.
Alguns são frios
outros tantos empáticos
a ponto de compartir
os fardos.
Alguns se encontram
outros partem sem rumo
e não voltam.
Alguns engolem
em seco a indiferença
outros tantos morrem
engasgados.


                                                                      Vitor Lima





quarta-feira, 14 de maio de 2014

PRISCILA ROSA


Poetisa Natalense

A poesia entrou pela janela
sentou no sofá
deitou-se na cama

Enigmática
observou
pares de sapatos
mudas de roupas
minha coleção interminável de Clarice

Antes de sair
catou alguns pedaços de papeis
abandonados na lixeira:

encontrara seu nome rabiscado

Tentando disfarçar o mal-entendido
ofereci um vinho barato
saiu discreta
não respondeu

Acho que era muito parnasiana
para a modernidade
destes versos
livres.


                                                                        Priscilla Rosa




terça-feira, 13 de maio de 2014

AGORA O BRAÇO NÃO É MAIS O BRAÇO


Elis Regina

Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.
Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado de brilhante.
E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamento de pontos
de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim - dizem -recontam a vida.
Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue,
afinam os ossos em fios luminosos e aí estou, pelo salão, pelas casas,
pelas cidades, parecida comigo.
Um rascunho.
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra.
Como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela.


                                                                   Elis Regina



terça-feira, 6 de maio de 2014

BONITINHO TIRA A ROUPA E CAGA NO MEIO DA RUA


Chico Motta
Imitando uma cachopa
cínico ou desavergonhado,
depois de embriagado,
Bonitinho tira a roupa
nem a vizinhança poupa
no escândalo continua
com a safadeza sua
e o excesso de bebida
se acocora na avenida
e caga no meio da rua.


                                                                   Chico Motta