domingo, 28 de abril de 2013

O PARTO





Meu corpo está completo, o homem - não o poeta.
Mas eu quero e é necessário 
que me sofra e me solidifique em poeta, 
que destrua desde já o supérfluo e o ilusório 
e me alucine na essência de mim e das coisas, 
para depois, feliz e sofrido, mas verdadeiro, 
trazer-me à tona do poema 
com um grito de alarma e de alarde: 
ser poeta é duro e dura 
e consome toda
uma existência.

                                                                Nauro Machado


segunda-feira, 22 de abril de 2013

FASCINANTE MÚSICA

Sarau na UERN

Desequilibro-me luxurioso
aos fios bruxuleantes dos teus pelos,
maviosos.
Arquejo brados solitários
à penumbra arterial de apelos,
de um saco embrionário.
Sangram as vísceras em cada canto
à incrível falta estonteante,
do seu estonteante ébrio encanto.
Mas preenche a música...
Fantasma de afago necrófilo,
preenchem-me as notas
de uma guitarra escarlate de sorte,
vem quebrando as portas,
vem me trazendo a morte.


                                                                Yuri Hícaro


terça-feira, 16 de abril de 2013

TE PERTENCER


Ao meu lado a poetiza pau-ferrense Taiza Barros
 


Será que ainda vou te ver
ou será que te perdi só por alguns
segundos?
Oh! Rapaz que dentro de poucos
minutos me falou de amor!

Quero sentir o sabor do seu amor
quero refugiar-me em teus braços,
nem que sejas apenas por um dia.
Sem nem pensar o que pode acontecer,
por uma hora sem saber o porque.
Por um minuto para eu respirar você,
ou até um segundo para navegar  no teu ser!

Quero por alguns instantes
que me faça feliz...
Não sei se te amo
ou vou ser infeliz,
mas quero te dar uma chance...

de me fazer feliz...

Vou deixar tu me amares,
vou me doar a você.
Nem que sejas
apenas por um dia,
vou te deixar ser feliz...
como você sempre quis...

Apenas eu e você.

Não quero te enganar
nem te pertencer,
quero apenas me doar
a você.

As vezes me sinto angustiada
e sinto saudades,
queria pelo menos te ver
ou simplesmente te ter,
por um segundo.
Sem nem perceber ,
junto a mim e dentro de você.

Não sei por que sinto
essas coisas,
nem sei como lhe dizer,
só sei que me doo a você
se você me querer.

Uma lágrima rola em meu rosto
quando penso em você.
Por que será que me sinto assim,
sem sabe o quê, o por quê?

Não sei o que faço,
o que sinto ao te ver.
Não sei se me rendo
ou me restrinjo
ao teu fascínio
de me ter
de me amar...
te pertencer.

Não posso te amar
nem te pertencer,
mas posso me doar a você
se ainda me querer.

                                    Taiza Barros

quarta-feira, 3 de abril de 2013

MÃOS DADAS





     Não serei o poeta de um mundo caduco.
     Também não cantarei o mundo futuro.
     Estou preso à vida e olho meus companheiros.
     Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
     Entre eles, considero a enorme realidade.
     O presente é tão grande, não nos afastemos.
     Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

     Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
     não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
     não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
     não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

     O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
     a vida presente.

                                                                  Carlos Drummond de Andrade