Engenhoso Poeta Português |
E eu que sou o rei de toda essa incoerência,
eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
e giro até partir...mas tudo me resvala
em bruma e sonolência.
Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de oiro,
volve-se logo fácil...ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente dum tesoiro,
morro à míngua de excesso.
Alteio-me na cor à força de quebranto,
estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso!...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto.
Não me pude vencer, mas posso me esmagar,
- vencer às vezes é o mesmo de tombar -
e como inda sou luz, num grande retrocesso,
em raivas ideais ascendo até ao fim:
olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso...
Tombei...
e fico só esmagado por mim!
Mário de Sá-Carneiro