sexta-feira, 30 de outubro de 2015

MARACATU



Nina Rizzi


Sou grande, todo o largo.
Imensa pra qualquer canto.

Danço
como setenta pombas-gira.

Na bandeja,
a cabeça de João Batista.


                                                                              Nina Rizzi




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

BEATRIZ



Fernanda Fatureto 


De todo amor rendido ao fim
Metafísica obscura do adeus
Seria possível olhar em seus olhos
Novamente ?
Tudo está perdido -
Sabemos
E por saber cantamos idílica noite
O que nos foi profano:
Todo começo é pureza
ainda que haja o corpo
O soluço e o choro.
Névoa da partida
Do canto estarei atenta
Não mais musas a me inspirar o sentimento sagrado.
Percorre o céu,
Eu ainda estarei na terra.
Adentras o inferno da minha alma,
Turva.


                                                                            Fernanda Fatureto





sábado, 17 de outubro de 2015

SOBRE



Lívio Oliveira


Arde ainda o tempo
em que não te vejo
guardando dor e incenso
das horas em que me lancei
sobre os teus peitos duros
e língua acesa em sais

Todo o ar que engulo
de tua boca ausente
mistura venenos
ao sangue impuro
que se expande
em tecidos e cortinas
e nas tuas coxas
sob o oculto da noite e suores.

Teimo em aguardar
mais dias de sonho
de sonos vis
no travesseiro
das tuas costas
tatuadas de centauros.


                                                                                Lívio Oliveira


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

INFARTO



Diego "Urso" Moraes


O dono do estabelecimento
baixou
o volume de uma canção do
Belchior
e um cara sofreu um infarto
dentro do bar
a família do cara veio pegar o
corpo
mulher, mãe e filhos chorando
não aguentei a situação e fui
ao banheiro
dar um tiro numa peteca de pó
e voltei para minha mesa
chorando baixinho
olhei para a cadeira onde o
cara estava sentado e vi
um monte de papeis
esvoaçando
como se o espírito dele
brigasse contra uma
tempestade
aí aumentaram o Belchior, as
pessoas começaram a gargalhar
e os papeis continuavam a
voar
como se fosse uma fonte de
poesia.


                                                                           Diego Moraes





domingo, 4 de outubro de 2015

NIL KREMER


Nil Kremer

se rubra te guardo em meu ventre
sente
já é erupção em minha epiderme
minha lava lavra teu vulcão
recebo
não nego
entrego minha joia
flor em plena primavera
não espere criar raiz
te quis na medida do agora
e quando for
por maior que seja a demora
aqui permanecerá
presente