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(Para Priscila Merizzio)
Tirei lírios de mim hoje bati a porta para velhos
nauseabundos sentimentos engarrafados sob as unhas ríspidas do cemitério da
vaidade
Apagaram as claves da frente da partitura dos assaltos &
agora os flagelos borbulham um atonalismo de arrepiar
Em algum lugar do mundo uma flor-de-lótus surge como uma
criança orando em meio a lama
Afundaram os pássaros & a sede de aventura na monotonia
embargada da cerveja
Os relógios apressam a Morte & a civilização tosse
lapidando a mais nova guerra & a mais nova moda em nome da distração
enquanto soube de tudo isso vi sinos caírem, nuvens
tropeçarem, rios coaxarem sob as pirâmides dos olhos das crianças uma
abominável mitificação da orgia a neura & a labuta perderem seus ossos
entre as roupas rotas das fadas & as fardas dos divórcios
O matadouro & o cio como chaves do coma
O amor barganha as pílulas para a manutenção do bem-estar
ignorante O amor é uma trapaça que me venceu O amor é um cão raivoso que me
mordeu o peito & roubou meus ossos ("Quero saber quem é que ama nessa
porra...")
Derrotei o meu espírito num enclave de cruzamentos nervosos
telepatia híbrida paixão herbácea fincando suas garras de krokodyl em minhas
sístoles
O pavimento das ereções douradas explode em carnavalescas
reviravoltas dentro do palácio do meu ser
Não cabem guaridas em meu atômico peito todo o castanho
esforço me leva a soterrar a imaginação embrionária dos novos planetas.
Em minha retina há sinfonias arranhadas, discos que ganem
suor & transas mesclas exóticas de humor urtigas apressadas para o
casamento da mentira com a verdade
Deformei a mim mesmo até atingir a monstruosa perfeição
Arco-íris de saliva guerra de placenta transformada na
ante-sala do Dilúvio
Uivos de jaleco a deteriorar perante uma plateia que aplaude
a exibição do Grande Nihil
Antes que se fossem os desafetos dos mendigos as larvas das
vozes dependuradas nas alabastros sedosos Eu formigava uma paleontologia da submissão
A monstruosa desarmonia dos planos de concretização do
dinheiro rouba os terrenos baldios onde estavam plantados nosso vadio sonhar
Quero me atirar nos lábios da próxima mulher bonita que
queira queimar momentos comigo
arranquei dos campos de farpas do cérebro todas as sementes
malsãs
Festejei secretamente que as bonecas implodissem seus
diafragmas em risadas nervosas em rituais tão infantis quanto o beijo infame da
antimatéria
Passearam por mim todos os espantos zombarias moleculares
tristezas inéditas & até um ócio sem freios
Caiu a máscara do circo enciumado enquanto com as mãos sujas
de sangue as baratas riam
Não quero cortejar o alento da nova manhã apodrecida Nem
desfilar na mumificação da alegria
sonhei isso para preservar a minha pureza & guardar meu
rosto no gesso da deformidade do tempo
A noite gera frutos cruéis & incertezas além-oceano
Faróis se deitam na dobra dos mares
Os dedos das montanhas nos acusam pequenos pensamentos
Liquefeito na fúria do miocárdio eu contemplo os jardins de
minha sombra & aceno para a tonelada de eletricidade que abandono
Meu completo descaso acende por inteiro a saída por trás da
balbúrdia humana (não há out-doors para onde eu vou)
A memória se tornará o fio da faca o papiro em branco a
máquina formatada a queda de todas as coisas Atirarei facas no Infinito
Ikaro
Maxx
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