quarta-feira, 18 de julho de 2012

AVISO AOS NÁUFRAGOS

Paulo Leminski


Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não é assim que é a vida?


(Leminski)

O poeta

4 comentários:

  1. Um universo poético genial...pós-moderno de desafíos metafóricos quase dadaístas, cheio de semântica, de sentido, de vibração existencial!

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  2. Caro Izócelis,

    Estou maravilhado com o teu blog. Excelente, sublime os poemas postados por ti. Avante!

    Abraço,

    Lima Júnior - Mossoró/RN
    http://entreopoemaeapoesia.blogspot.com.br/

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  3. Seja bem vindo, José Lima Dias!
    Esse espaço festeja mesmo a literatura, o gosto das letras no descaminho das entrelinhas da poesia...que seja esse também um reduto para os seus poetas favoritos sua escrivaninha,e um feedback para os poetas do circuito mossoroense de poesia,são importantes os dias que virão
    com todo esse diálogo, toda essa soma potiguar!!!

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  4. Caro Izócelis,

    Me der a permissão de adentrar o seu cantinho poético. É que toda essa gente (poetas, poetisas, prosadores, amantes da cultura...) resiste a todas as chuvas e ao vento da vida diária. Porém, a revelação dos dias nos revel que na luminosidade das manhãs ou na opulência notável das noites, os homens terminam anulados pelo cotidiano. Cabe a nós, poetas, reinventar um novo homem.

    José Lima Dias Júnior ("Amil Said")

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