terça-feira, 27 de novembro de 2012

À MERCÊ DO EU




Mario Gerson, maior responsável pelo movimento Novos Poetas.



Estou onde meus dedos doem...
Onde meus dedos somem,
Na fagulha acesa do dia
Assombrando solitários sóis,
Que alumiam vagas manchas de saudade,
Impregnadas numa pele qualquer.

II
Meus amanhãs nunca morrem
Nesta soma comum de tantos nadas,
Em que se solidificam vertigens.

III
Quantos corpos, nesta noite,
Jogados ao relento das horas,
À mercê do Eu!

                                                                 Mário Gerson


Obra do poeta mossoroense, "A Noite de Luvas Brancas".



domingo, 25 de novembro de 2012

OS VERSOS QUE TE GUARDEI

Poeta de Areia Branca



Os versos que te guardei
     Não carregam bandeiras,
     Não exaltam cânticos,
     Não estão nos muros;
Estão na mente, no corpo, no beijo...
Os versos que te guardei
     Não estão nos livros,
     Não estão nos templos,
     Não voam ao vento;
Estão na pele, nos olhos, no cabelo...
Os versos que te guardei
     Não confidenciam segredos,
     Não afastam seus medos,
     Não conjugam seu verbo;
Estão na boca, mordida, pescoço...
Os versos que te guardei
     São vida, mesmo em morte;
     São morte, mesmo em vida.
Os versos que te guardei
Serão sempre os versos em que te perdi.
                                                                Luiz Luz

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NO CABARÉ-VERDE ÀS CINCO HORAS DA TARDE



Arthur Rimbald



Oito dias a pé, as botinas rasgadas
Nas pedras do caminho: em Charleroi arrio.
- No Cabaré-Verde: pedi umas torradas
Na manteiga e presunto, embora meio frio.

Reconfortado, estendo as pernas sob a mesa
Verde e me ponho a olhar os ingênuos motivos
De uma tapeçaria. - E, adorável surpresa,
Quando a moça de peito enorme e de olhos vivos

- Essa, não há de ser um beijo que a amedronte! -
Sorridente me trás as torradas e um monte
De presunto bem morno, em prato colorido;

Um presunto rosado e branco, a que perfuma
Um dente de alho, e um chope enorme, cuja espuma
Um raio vem doirar do sol amortecido.

                                                           Arthur Rimbald


DA ESQUERDA PARA A DIREITA: Verlaine, Rimbald e outros poetas.
      

domingo, 11 de novembro de 2012

CIGARRO



Renan Lacerda, poeta pauferrense



Sai da minha fertil conciência
Pois a inocência,
Inda há de vir.

Salivas de catarro amargo
Do prazeroso trago
Dessa mersa nicotina de morte.

Morra, morra estupida ancia
Ancia de desejo
desejo de um cigarro...
 
 
                                                          Renan Lacerda

terça-feira, 6 de novembro de 2012

TALLES AZIGON



Talles Azigon



Na vida teoria
E em todas as teorias da vida,
Eu não vejo nem uma poesia.
No meu dia a dia de cão
De ter a alma vendida por um tostão
De ter de pagar passagem
E seguir viagem
Pensando na conta da luz e no preço do pão.
Eu não vejo nem uma poesia.
Mas no teu sorriso.
Ah! No teu sorriso.
Está toda a poesia da vida,
Toda beleza do dia
Esta no teu sorriso menino
Todo feito de poesia.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

BANALÍSSIMOS DIZERES ÍNTIMOS DE AMOR




                                          Como se não fosse eu, mas
                                          outro (livre de mim que conheço),
                                          sigo,
                                                 me aceito e faço -
                                                 obra minha quando tão tua.

                                          Grito teu nome debaixo das letras,
                                          insido sobre o corpo morno que se adensa
                                                 (livro de poemas, não escritos mas
                                                  bebidos
                                                              em teu perene arder
                                          reaceso no verso
                                          transcrito
                                          onde só teu amor alcança, só ele!).


                                                                                    Dércio Braúna


O POETA CEARENSE

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O AMOR CHEGA EM UMA HORA

outra poeta mikaelense do CAMEAM/ UERN,  Sidy.



      O amor chega em uma hora
      mas agora já são duas, três
      quatro horas.

      O amor chega em uma hora
      embora seja uma hora
      dentro de horas no meio
      de outra hora.

      O amor chega em uma hora
      com o clamor da outrora.
      Lá fora eu sem horas,
      sem tempo, sem entendimento.

      O amor chega em uma hora
      agora é menos de uma hora,
      eu sem historia contraria o hora.
     


                                                                   Sidy Guilmore