quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ANTONIO NAHUD



Escritor baiano



Meu coração é selvagem
do meu chão brotam lírios
minha boca plumagem de colibris

minha pele animal felino
meu sangue árabe
minha poesia arrebatada

ave, Gullar! ave, Wally!

coleciono juventudes desperdiçadas
cacos de sensações

troco desanimo pulsando em vida
por força visionária para continuar
e continuar Cícero
e continuar Cecim
e continuar Hilst

troco amor por amor
com quem me ajuda a semear jasmins
João Cabral e sabiás

troco o impulso de me jogar pela janela
por versos de Leminski com vistas para o mar


ANTONIO NAHUD

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

HILDA HILST





Lobos? São muitos.
Mas tu podes ainda
A palavra na língua
Aquietá-los.

Mortos? O mundo.
Mas podes acordá-lo
Sortilégio de vida
Na palavra escrita.

Lúcidos? São poucos.
Mas se farão milhares
Se à lucidez dos poucos
Te juntares.

Raros? Teus preclaros amigos.
E tu mesmo, raro.
Se nas coisas que digo
Acreditares.

                                                                          Hilda Hilst

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

MOTIVO


 
 
 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
 
                                                 
                                                         Cecília Meireles
 
 
 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

FERNANDA FERNANDES





                  


Porque de solidão eu entendo,
Desejo que vai embora com a chuva.
O telhado parece me entender,
Observa-me, parece ler meu pensamento.
Será que tenho que jogar uma pedra em cada sentimento meu ?
Cortou as minhas asas,
Como voar se aprisionou meu coração ?  

Pode cuspir em minha dor.
Eu sempre deixo.
Escrevo você como poesia,
Não merece um verso,
Mas sempre lhe dou todo o livro.
O mundo parece fazer-me sonhar,
Mas não ...
É só teu olhar no meu
Tentando decifrar porque respiro assim
Quando estás ao meu lado.

                                                                            Fernanda Fernandes