terça-feira, 30 de setembro de 2014

AS SEIS CORDAS

Federico Garcia Lorca
A guitarra
faz soluçar os sonhos.
O soluço das almas
perdidas
foge por sua boca
redonda.
E, assim como a tarântula,
tece uma grande estrela
para caçar suspiros
que boiam no seu negro
abismo de madeira.

                                                                         Federico Garcia Lorca


domingo, 28 de setembro de 2014

RASGUE-ME

Poeta Potiguar
Não coloque palavras em minha boca.
Coloque a sua língua.
Eu poderei fazer melhor uso dela.

Não elogie a minha roupa,
rasgue as minhas vestes.
Não me acaricie os cabelos,
faça um nó com eles em suas mãos
e deixe-me em movimento,
onde eu possa ver o seu rosto
em cada elevação
que seu quadril
provocar em meu corpo.

Ainda lembro-me de cada dedo seu.
Onde cada um deles encontrava um lugar pra entrar.
Talvez meu corpo tivesse um cartaz escrito:
Seja bem vindo,
fique a vontade;
pois era assim que você sentia-se.
Não pedia permissão para nada;
Meus "não" eram "sim" para você.
E logo sorria como se pensasse:
"Eu sei que você gosta".

A loucura encontrou um jeito de unir nós dois:
Nossos corpos precisam um do outro.
Tua barba pede a pele das minhas coxas
e já sinto tudo alagado...
Meus pensamentos,
meu coração
e as minhas pernas.


                                                                             Fernanda Fernandes

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

POEMA PRA ESTÁTUA DE SANTA LUZIA

Camila Paula

Fazei jus,
justiça.
Tupã!
Iansã!
Jesus!
Na terra que não tem
como dar à luz,
a cegueira não tem tamanho!


                                                                             Camila Paula


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

POEMA FÁCIL

Poeta Baiano

Eu quero o poema fácil,
difícil de ser escrito.
Que seja minha a tortura,
e meu silêncio o que eu grito.

O entendimento imediato
no tempo da epifania.
E o resto, uma chuva branda
sobre o calor da poesia.

Que entendam o que não sinto
em cada verso de prata,
e sintam a imprecisão
que incomoda mas não mata.

Difícil de ser escrito
aquilo que sente a mão:
o plástico da caneta,
a carne do coração.


                                                                               Henrique Wagner


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

CHOVERA CHORO

Gabriela Lima

Afora infinitas possibilidades de der-ramar água dos olhos
Há um choro que se chora lá dentro
Que molha só o coração
é choro seco pra quem vê
porém uma correnteza de um intenso rio
correndo no ser

Tem tristeza que não molha
Tem dor que não deságua

É choro de suspiro preso, coluna reta...
não daqueles que você olha com olhar.
É choro que a vida não deixa chorar...

...e esse choro
só a chuva: pra derramar.

                                                                              Gabriela Lima