segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

SIGNO



André Ricardo Aguiar


Amor é um modo
de dizer amor: cifra

que não se repete
alicerce azul e antena

onde o som hiberna
no fundo claro-escuro

de cavernas e funis:
amor a tudo golpeia

píncaros e muralhas
e passagens secretas

e revoluções desertas
na praia. Amor é um modo

em que ardo.




                                                                            André Ricardo Aguiar



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

DELINEADA



Gabriela Lima


Muitos conhecem
o delineado desse olhar.
Esconde o turvo,
lagos pretos,
oceanos obscuros,
repletos
              de certezas duvidosas
e vazios
de aceitação.

Poucos viram
sem esses traços.
Guardo
             a essência pra raros,
revelo
            pra quem sabe ler
as entrelinhas
bem além
do que se vê.

                     
                                                                           Gabriela Lima





domingo, 17 de janeiro de 2016

MARCELO ADIFA




OAutor

Além, fosse mais um dia
o olhar pela janela vazia
aberta, alma que recebe
e nada tem por oferecer

E nem tudo que por certo
tenha a força das nuvens
é capaz de suplantar Deus
lá fora, vento em choque
onde as brisas se findam

O homem, fortaleza de si
pouco entende das coisas
da natureza e realiza,
só, a única ação
que dele se espera:

mantém a janela aberta




                                                                          Marcelo Adifa



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

TRAVESSIA




Aqueles que atravessam a cidade,
atravessam a eternidade.
Os bares, as esquinas e as janelas
não apontam os mortos,
mas há uma afinidade que os une
e revela a solidão dos homens;
a existência dos homens no mundo
e o nome pelo qual a vida é desconhecida.
Aqueles que atravessam a cidade,
atravessam a si mesmos,
aleatoriamente,
como uns loucos sem um mapa à vista.
Se de algum modo existem,
não sabem onde estão e aonde vão.
A cidade é o labirinto dos homens,
o que os move para o encontro atrás da porta
onde a vida se chama travessia.



                                                                          José Saddock de Albuquerque

domingo, 10 de janeiro de 2016

BUSCA



Anchieta Rolim


Ando descalço
Pelo asfalto
O sangue escorre
O canto é triste

Palavras
Vazias

Corro atrás
Talvez, de uma fuga
Do que não sei

Em meus sonhos
Só os pesadelos
Acordam-me do medo
Do que amanhã serei

     
                                                                           Anchieta Rolim



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

SAARA


Wilson Gorj


Nas dunas do seu corpo
me perco sedento,
em delírios suor e sal.

Oásis é o monte de Vênus
para a sede da carne.
A língua se banha, afinal.



                                                                              Wilson Gorj




terça-feira, 5 de janeiro de 2016

POEMA DE SANGUE


Yuri Hícaro

Pendulando ao vento,
em nível pleno e próspero
de consciência,
sigo prostrado
sob o curso do rio.
Minha casa
é o lar dos perdidos,
o lar dos deslocados, onde Cérberos
regurgita sua virgília
no relinchar assombroso
de novos
dias...

Cores fúnebres que se misturam n'alvorada.


                                                                             Yuri Hícaro