"Eu quero fazer música com minha dor".
Traga-me pois, bela taça de vinho tinto.
Ao primeiro trago, saberás o que sinto.
Co'amargos versos, degusto seco sabor.
E, traga-me ainda, meu violão por favor!
Plangente acalanto para um amor extinto.
Já não anseio sair desse labirinto,
a solidão abafou meu débil clamor.
Angústia, desespero, já não me amedronta.
A treva sentinela também não me afronta,
desilusão alguma me leva ao abismo.
Mesmo abraçado a minha dor, valsarei tangos,
bailarei modinhas, folias e fandangos.
Da minha própria dor, eu só quero o lirismo.
Manuel de Azevedo