quarta-feira, 3 de abril de 2013

MÃOS DADAS





     Não serei o poeta de um mundo caduco.
     Também não cantarei o mundo futuro.
     Estou preso à vida e olho meus companheiros.
     Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
     Entre eles, considero a enorme realidade.
     O presente é tão grande, não nos afastemos.
     Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

     Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
     não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
     não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
     não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

     O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
     a vida presente.

                                                                  Carlos Drummond de Andrade

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