terça-feira, 6 de dezembro de 2011

LÁGRIMA

                                                           R. Leontino Filho






                                            
imaginar os passos
o som lento
a construção da tristeza


imaginar as dívidas
o ritual ancestral
a canção absurda da terra

imaginar os exílios
a saudade farta
a pátria em pedaços

no hemisfério dos olhos
a imaginação passeia
doce migração dos lares

no hemisfério dos olhos
a memória registra o arco-íris
larga solidão dos reinos

no hemisfério dos olhos
o poema desencarna
fria calmaria dos becos

a língua no hemisfério dos olhos
nem imagina as migalhas de culpa
cuspindo vícios
rachando cabeças
afogando sombras

a lágrima no hemisfério dos olhos
nem imagina os restos de sonho
moldando passos
devorando sentidos
borrando tristezas

imaginar todo hemisfério
é revolver o inverso dos olhos
tudo descontar, à revelia
separar pedaços de crepúsculo
misturar pousos
romper acordos

todo hemisfério é imaginação
inocência gasta
v a d i a



3 comentários:

  1. Em destaque, lágrima, do poeta e também professor
    da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
    o gigante Leontino que da simplicidade ficaram
    suas pegadas no campus de Pau dos Ferros, onde ministrou aulas marcantes de Literatura...

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  2. Partida inteira
    seu poema
    banha imanta olhos sedentos

    partida inteira
    minha face
    trancada sem sonhos alimento

    partida singela tangida monumento...

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  3. Belíssimo poema. Sensibilidade aguçadíssima.

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