domingo, 8 de junho de 2014

ESCÁRNIO PERFUMADO

Cruz e Sousa
Quando no enleio
de receber umas notícias tuas,
vou-me ao correio,
que é lá no fim da mais cruel das ruas,

vendo tão fartas,
d'uma fartura que ninguém colige,
as mãos dos outros, de jornais e cartas
e as minhas, nuas - isso dói, me aflige...

E em tom de mofa,
julgo que tudo me escarnece, apoda,
ri, me apostrofa,

pois fico só e cabisbaixo, inerme,
a noite andar-me na cabeça, em roda,
mais humilhado que um mendigo, um verme...


                                                                      Cruz e Sousa



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