terça-feira, 25 de agosto de 2015

RÉQUIEM DAS SETE CASUALIDADES


Myrian Coeli

Sete espadas me abriram
- sete flores rebentaram.
Sete espinhos se encravaram
nestas carnes descarnadas.
Sete dados, sete sortes,
contra mim foram jogados.
Na solidão, sete abismos
esperanças enterraram.
Em meus braços sete anjos
de angústia suspiraram
e pelo avesso os meus sonhos
em minha alma estrangularam.
Sete dores me tremeram
e meu peito atormentaram
sob essa túnica branca
em que vivo condenado.
Sete escárnios me lançaram,
sete cuspes me insultaram
neste rosto que de herança
foi de nada agraciado.

Sete escritas proscritas
nos apelos da linguagem;
sete bordéis de palavras
as ideias deturparam.
Sete ilhas represadas,
de sete sonhos negados
em sete oceanos de sal,
de silêncio dominadas.

Sete terras e mais amores
- possessões de minha ânsia,
gado e canto, mais a flauta,
que no ar jazem desfeitos
- o que foi minha abastança.
Sete sede inflamadas
em sete rios sem águas.
Sete pássaros me arrancando
para nuvens de cobalto.
Sete espelhos deformados
onde via minhas graças.

Sete bronzes estão tocando
pelo sono que me cobre.
Sete altares luzem velas
pela morte que memora.
Sete lágrimas choradas
pelas coisas que perdi,
já no íntimo enterradas.

Sete pesares tenho
são suspiros que me mexem
em sete faces, sete atos,
tantas vezes vezes sete.

Sete alegorias mortas
que formavam meu cenário
- que a vida não comporta
sete mortes tão incautas.
Sete espadas alanceiam.
Sete sangues já empostas.
Sete mortes tão estanques
neste espaço onde esmago
tortos dias estranhados
- sete feras me devoram.

Sete altares luzem velas
pelas mortes que me matam.

Sete espadas me mataram.


                                                                             Myrian Coeli





2 comentários:

  1. Poema indicado pelo nobre professor e poeta Leontino Filho.
    Fonte: Preá 27 Maio, Junho, Julho 2014

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  2. Muito bom! Excelente escolha. luz e paz. Abs

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